Desce agora o sol, molengão; vai declinando muito lentamente de maneira que mal se note a circunferência que descreve no céu.
Desço as escadas em passo de corrida, os meus pés mal tocam nos degraus. O som dos passos é abafado pela carpete que delineia a escada: não são passos são apenas batidas de um coração apressado pela corrida para o encontro. Finalmente chego à cave e sou brindada com o seu fechado ar quente habitual, suas paredes despidas e sua luz crepuscular. Esta recepção acelera a minha busca apressada... Ao canto, arrumadas a monte, estão amostras e restos mortais do que foram um dia bicicletas. Sem tempo para me distrair com pena do que foram um dia estes e outros objectos guardados no arquivo de memórias da casa, resgato o único velocípede capaz de cumprir a tarefa.
Abro o portão com um estrondo e todo o espaço é brutalmente invadido por sólida luz e ar ríspido. Saio. Fecho de um puxão o portão, impedindo que continue a invasão por mais folhas secas.
Monto a bicicleta e sigo a pedalar estrada acima. Após um início conturbado, retomo a confiança da bicicleta e vou pedalando cada vez mais rápido. Percorro estradas, caminhos e vielas, lugares raramente palmilhados, quase secretos para o comum ser adaptado à monotonia do dia-a-dia agitado, envolvida em fumo de escape de automóveis.
Sigo rapidamente, para fugir a toda esta névoa cosmopolita. Com cautela, evito oscilações mais bruscas de terreno e subo o monte até chegar ao Forte.
No Forte onde me esperam as rajadas fortes de vento Norte e o fim do dia com o seu espectáculo habitual. Espera-me ainda a magnífica vista dos vales verdes em redor, aconchegados por encostas penteadas de vinhas. Sei que vou encontrar também a inspiração e calma que preciso, e a promessa de "melhores dias virão".
E por isso, sigo depressa...
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Débil_Mental