Vão haver sempre altos e baixos, mas não me importa ter de praticamente viver nos vales escuros, se pelo menos de quando em quando possa subir ao cume da montanha.
Íngreme e tortuoso
O caminho para o cume.
Mas tem de ser feito
Para daqui sair;
Do vale tenebroso.
Primeiro uma mão
Depois a outra
Puxando para subir,
Sempre cauteloso…
Empurrando a rocha para o chão,
Vai saindo o vale.
Sente o ar mais frio
Mais vivo, mais ar.
Custou o primeiro puxão
Mas ficou já bem para trás.
O corpo dolorido
Entra no modo automático
E vai adormecendo a dor.
A subida sofrida
Parece agora surreal;
Na fronteira entre o possível
E o impossível,
O cume está desfocado
Não se percebe…
Mas as mãos continuam
Quase que involuntariamente
Puxão após puxão
Levam para cima o corpo
De mente ausente.
Até que…
Acontece por fim
O fim da rocha
O fim da subida
O fim das duvidas
O fim das dores
O início dos sabores.
No cimo do cume,
Estamos no cimo do cume!
Se ousar olhar para baixo
Apenas vejo sombras
Envoltas na neblina e escuridão.
Não olho para baixo,
Pois sei que breve é o momento
E a descida se acerca…
O caminho para o cume.
Mas tem de ser feito
Para daqui sair;
Do vale tenebroso.
Primeiro uma mão
Depois a outra
Puxando para subir,
Sempre cauteloso…
Empurrando a rocha para o chão,
Vai saindo o vale.
Sente o ar mais frio
Mais vivo, mais ar.
Custou o primeiro puxão
Mas ficou já bem para trás.
O corpo dolorido
Entra no modo automático
E vai adormecendo a dor.
A subida sofrida
Parece agora surreal;
Na fronteira entre o possível
E o impossível,
O cume está desfocado
Não se percebe…
Mas as mãos continuam
Quase que involuntariamente
Puxão após puxão
Levam para cima o corpo
De mente ausente.
Até que…
Acontece por fim
O fim da rocha
O fim da subida
O fim das duvidas
O fim das dores
O início dos sabores.
No cimo do cume,
Estamos no cimo do cume!
Se ousar olhar para baixo
Apenas vejo sombras
Envoltas na neblina e escuridão.
Não olho para baixo,
Pois sei que breve é o momento
E a descida se acerca…
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O guardador de portas é um homem. Vive só, entre o mundo e a solidão, e guarda teimosamente todas as portas que lhe dão acesso. Por elas só ele passa. São portas feitas de vazio e de dor e ficam algures entre o 7º patamar do 7º céu do 7º mundo do 7º universo, e por isso a felicidade não lhe chega. Muitos são os que se aproximam, mas o guardador de portas é implacável, e só aqueles que nunca voltam a sair chegam a entrar.
No quintal da sua desabitação crescem árvores secas, fruto da cultura dos que um dia marcaram presença, quando em tempos o guardador abria portas ao mundo.
«De que viverá o espírito inquieto?», perguntam os cruéis atiçados pela curiosidade. Este “espírito inquieto”, que naturalmente se perde no tempo e no espaço, vive da esperança de que um dia aquele cujo nome ele não pronuncia lhe bata à porta. Mas o tempo passa, e um dia, inevitavelmente, uma a uma, todas as portas se fecharão para não mais se voltarem a abrir. Aí o guardador de portas deixará de o ser, e acabará por morrer sozinho entre não-paredes, e ninguém mais ouvirá falar nele, embora o seu nome desconhecido seja pronunciado em sussurros gritantes, que acabarão por se tornar mudos e cair no esquecimento.