10 outubro 2025

Aguarelas



Em julho participei num workshop de aguarelas, promovido pela Ossos do Ofício, com a Carolina Daniel.

Aqui fica o que consegui fazer: marcadores de livros, uma etiqueta e uma paisagem mais ou menos livre.







E vocês, o que fazem para sair da rotina?

 



23 setembro 2025

O Rouxinol - uma leitura arrebatadora sobre coragem no feminino

Já andava com este livro debaixo de olho há algum tempo. Aqui e ali ia surgindo como sugestão "se gostou de x, vai gostar deste", ou "porque procurou y, veja z". Mas acho que o que pesou mesmo na minha decisão de compra deste livro, foi o facto de ter feito o teste do Read your color e depois de ter apurado que sou uma leitora com grande percentagem de Blue Reader, O Rouxinol aparecer como um livro-tipo desta categoria de leitores. (Se ainda não fizeram este teste, convido-vos a fazê-lo aqui.) 

Parti então para a leitura de O Rouxinol, apenas sabendo que foi algures no tempo um best-seller, que, alegadamente, seria um bom livro para quem gosta de leituras que convidem à reflexão interior e que explorem os recantos do espírito humano. Não li a sinopse, apenas vi que tinha aproximadamente 600 páginas.

Comecei a lê-lo no início das minhas férias porque pensei que seria uma excelente oportunidade para ler um livro já médio-grande. Só não refleti que talvez o facto de ter começado a lê-lo enquanto estava a ler outros dois talvez não fosse ajudar. 


Do que trata 

O Rouxinol, de Kristin Hannah, é um livro que conta a história de duas irmãs francesas, Vianne e Isabelle Rossignol, no contexto da 2ª Guerra Mundial, aquando da ocupação de França pelas tropas alemãs. Até aqui, nada de muito novo: não é uma temática inovadora e por isso confesso que de início achei que afinal estava a embarcar numa história que tinha prometido mais do que iria entregar. É um livro que começa de forma algo lenta, demora algum tempo a contextualizar a situação quase idílica de uma das personagens principais, a Vianne, antes da Guerra lhe bater à porta. Digo quase idílica porque até parecia pouco verosímil que à época houvesse famílias a viver assim no contexto descrito. Depois a descrição e enquadramento da outra personagem principal, Isabelle, também me pareceu um bocado exagerada, no sentido do assinalar a sua rebeldia e irreverência. Por isso, considero que o início do livro não é muito abonatório. Mas, bom, as boas notícias é que melhora, e muito, na minha opinião.

Para mim foi mesmo um daqueles livros que começamos a ler aos poucos e por vezes a duvidar se nos vai encher as medidas, mas que à medida a que avança a história e o enredo, nos vamos envolvendo emocionalmente com as personagens e com o seu contexto, num crescendo constante.

Se comecei muito devagar, a ler pouco de cada vez e até a achar que os capítulos eram grandes demais, a verdade é que para o final já nem me apercebia, porque só queria continuar a ler.

Não tenho a certeza, porque não fui verificar, quanto da história de O Rouxinol é factual ou quanto é ficção, mas mais importante do que isso a meu ver é o facto de explorar a importância do papel das mulheres no contexto da 2ª Guerra Mundial, de como elas conseguiram lidar com as vicissitudes desse contexto, e de como tantas delas tiveram papeis importantíssimos e que raramente são mencionados. Acresce o facto de estar escrito de uma forma cuidada, mas despretensiosa, direta e clara, mas que consegue criar no leitor uma ligação emocional forte com as personagens. Ainda que muitas vezes desse por mim a pensar porque é que têm de ser sempre mulheres bonitas, ou que tenham de referir enfaticamente estas características, acho que não é isso que impede ou que é condição para que sejam admiráveis.

O que me prendeu à leitura

É muito evidente ao longo da história a evolução das personagens, que, aliada ao ritmo dos acontecimentos e à carga dramática dos mesmos é sem dúvida um facilitador para a ligação emocional por parte do leitor.

A cadência crescente dos acontecimentos, bem como um pequeno capítulo de salto no tempo que é um bom teaser para o desenlace da história (cujo suspense é mantido até ao final finalinho), acho que são os pontos principais que nos colam ao enredo até ao final.

Contas feitas

Para mim O Rouxinol foi um livro arrebatador, merece muito toda a crítica positiva que tem recebido e se são leitores que gostam de romance histórico, ou de livros que falam de evento dramáticos, ou de livros que abordam a importância da figura da mulher, ou de livros que exploram o crescimento pessoal e a profundidade emocional, vão que vão bem. 

E vocês, já leram ou estão para ler O Rouxinol? Gostaram ou ficaram com vontade de ler? Contem-me tudo!

📖 Livro: O Rouxinol
🖋️Autora: Kristin Hannah
🎯Género: Romance histórico, Ficção histórica
🗣️Temática: 2ª Guerra Mundial, Resistência francesa, Mulheres na guerra, Relação entre irmãs, Crescimento pessoal, Drama histórico
💬Experiência de leitura: Blue Reader, Leitura demorada, Reflexão interior, Emoção na leitura
🤍Recomendação de leitura: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

18 setembro 2025

Letras



No outro dia a minha filha, que tem agora cinco anos, estava a comentar um outdoor que viu com umas grandes letras em maiúsculas, dizendo que estava ali um "a" e um "T" e outras letras que identificou. Depois perguntou-me o que é que estava escrito, ou melhor, que letras estavam escritas. Lá lhe disse o que estava escrito ao que ela respondeu que para o ano já ia conhecer mais letras e depois de conhecer todas as letras ia saber ler. 

Fiquei a pensar no que o saber ler significa. É sem dúvida uma capacidade notável que desenvolvemos e que aprendemos (agora mais) tendencialmente em tenra idade e depois nos acompanha ao longo da vida. Já quase tão básica como andar ou manusear objetos com as mãos que nem refletimos o quanto somos dependentes dela.

Conhecer todas as letras abre sim um portal para outra dimensão, uma dimensão onde o tempo não existe.

A escrita e a leitura permitem-nos comunicar com outros tempos. Já pensaram no incrível que isto é? Alguém escreveu o que estamos a ler agora. Esse alguém, do passado, está a comunicar connosco, do presente (do futuro, para quem escreveu). 

A minha filha ainda não sabe as portas que se vão abrir quando conhecer todas as letras, pois ainda vive num mundo em que para já são apenas símbolos visuais. Mas quando desencriptadas as letras e as palavras e as frases e os textos vão levá-la a lugares que ela nunca imaginou, ou que já imaginou e não sabia que havia mais quem já o tivesse imaginado também. Vai poder ligar-se com todo um outro mundo completamente invisível a quem não lê. E isso, é uma verdadeira maravilha da civilização. 


17 julho 2025

Sala de espera

 


No seu passo habitual de metrónomo, Américo seguia para a poltrona adaptada da sua pequena sala de estar. É estranho como chamamos “sala de estar” à divisão da casa onde se poderia fazer a maior quantidade de coisas diferentes, mas onde não há nada que obrigue que a designemos de outra forma. E, embora esta divisão já tivesse sido outrora um quarto e uma sala de jantar, agora era mesmo só uma sala de estar, pois era ali que eles estavam. Também é estranho que sendo a “sala de estar” fosse quase a divisão mais pequena da casa, se não contarmos com a casa de banho. No fundo, não passava de um corredor ladeado por estantes onde se encaixava a televisão, as vitrines, as gavetas das fotografias, o armário das bolachas e dos bolos secos, as prateleiras das fotografias e das salvas de prata, de um lado, e pelo sofá de dois lugares e meio e a poltrona adaptada, do outro lado. Esta sala de estar, ligava então a marquise ao corredor da entrada de casa.

E ali estava Américo, acabadinho de sentar na sua poltrona adaptada, que não era mais do que uma espécie de espreguiçadeira de baloiço, ligeiramente mais alta que o sofá e com braços firmes, que tornava o sentar e o levantar menos penosos. Fora oferecida pela insistente nora Sofia, que não se cansava de lhes encher a casa com apetrechos “muito úteis para jovens da terceira idade”. Américo detestava a poltrona, quase tanto como a designação terceira idade. A crua verdade é que detestava ainda mais não conseguir levantar-se do sofá sozinho.

- Isa! Toma: bebe a tua água mulher – ordenou Américo, estendendo o copo à mulher. 

- Não, já bebi há pouco. Não quero andar a correr para a casa de banho a tarde toda. Bebe tu a tua… Já viste, hoje estão em Viseu.

- Estou a ver, estou a ver… bah, mas é sempre a mesma coisa, não mostram nada das terras, mostram só o mesmo de sempre.

- Shh! Deixa ouvir – ralhou Elisa.

Américo obedeceu, daí a pouco fechou os olhos. Não precisava de ver o que já tinha visto tanta vez. Tinha os olhos cansados de tanta repetição. Sabia bem que não levava a lado nenhum este tipo de discussão com Elisa, até porque na realidade não se havia sentado para ver televisão, somente para se esquecer do tempo que falta, por mais um bocado. Também Elisa não estava sentada a ver televisão, até porque praticamente já não via nada. Em todo o caso, era ali que se sentia bem, no seu casulo. Sentada em cima do largo coxim de espuma memory e com nunca menos de três mantas em cima dos joelhos e à volta da barriga. Outra almofada para recostar as costas e, nos dias em que estava mais fresquinho, um velho xaile pelos ombros. Deixava apenas as tortas mãos de fora, uma segurando o terço e a outra repousava em cima do comando.
Américo e Elisa estavam casados há mais de 60 anos, tratando-se por isso de duas jovens tartarugas que muitas vezes desistiam destas discussões, deixando de lutar e simplesmente se deixavam ficar de barriga para cima até adormecerem e se esquecerem de onde estavam e como foram ali parar. Tanto um como o outro sabia que ou um ou outro acabaria por adormecer a meio da conversa e então optavam por não gastar energias em discursos inúteis.
Mas nem sempre foi assim.

02 junho 2025

95ª Feira do Livro de Lisboa

Olá,
É com enorme alegria que venho anunciar que estarei presente na 95ª edição da Feira do Livro de Lisboa, no dia 19 de junho, pelas 14H00, para uma sessão de autógrafos.


Estarei nos pavilhões da Atlantic Books - G16 | G17 | G18 | G19 | G20, com o meu livro "E se eu cair?" disponível para autografar os vossos exemplares, ou simplesmente para conversar sobre este meu projeto que inicia o meu percurso enquanto autora. O público-alvo deste livro serão as crianças dos 3 aos 7 anos de idade, mas contém uma mensagem que poderá ser apreciada por leitores de todas as idades.

Se estão a pensar visitar a Feira do Livro de Lisboa, não se esqueçam de adicionar este stand.
Espero por vós!

03 março 2025

Eu não me lembro

 Eu não me lembro quando comecei a saber, pelo cheiro quente no ar, que a estação quente voltava. Aquele primeiro inspirar do ar fresco da manhã mal saio de casa, ar esse que me chega adocicado e talvez mais seco do que até então e por isso denuncie a chegada da primavera. O segundo inspirar já a perscrutar minuciosamente estes detalhes, como que a confirmar que é verdade, vai ser um dia quente de primavera, ou mais quente do que até aqui.

Eu não me lembro do percurso que fiz hoje de carro quando regressava do trabalho. Vim pelo mesmo caminho de sempre, e sei que passei por lá, mas não me lembro de tê-lo feito. Vinha, como grande parte das vezes, a contar histórias a mim mesma, a resumir o que se passou durante o dia, ou que vai ter de passar-se mais cedo ou mais tarde. A treinar um discurso, ou até mesmo a treinar um raciocínio que me permita perceber melhor como lidar com aquela situação em particular. Não me lembro por isso se o sol se pôs durante o percurso, ou se já tinha desaparecido antes de sair.

Eu não me lembro do que ofereci ao meu pai no Natal passado. Aliás, apercebo-me agora que também não me lembro do que lhe ofereci no seu último aniversário em junho. Terá sido um livro? Penso que o último livro que lhe ofereci foi num aniversário, mas também não foi no deste ano. Talvez uma camisola, ou uma garrafa de vinho. Não me lembro porque não sei se gostou ou não: não cheguei a vê-lo abrir o presente. Dei-lho no jantar que fizemos no fim-de-semana antes do Natal e ficou de abrir só no dia de Natal, como é tradição.

Eu não me lembro de quando aprendi a nadar. Sei que deveria ter cerca de 8 anos quando comecei a ter aulas na piscina do CMEFD. Aquela piscina gigante. Não me lembro da primeira sensação boa de conseguir estar, tranquilamente, na água sem estar agarrada à borda da piscina, ou com os pés a tocar no chão da piscina. Não me lembro da primeira vez em que fui só eu, sem boias, ou pranchas de espuma, a nadar uma piscina inteira até ao fim. Não me lembro da primeira vez que não fiquei atrapalhada com a água a entrar no nariz, ou nos olhos, ou nos ouvidos.

Não me lembro de quando consegui escrever o meu nome. Não me lembro se aprendi a escrever primeiro o meu diminutivo ou logo o nome todo. Sim, porque para estreantes, um nome com oito letras não deve ser fácil. Talvez tivesse ocupado uma folha A4 inteira para o escrever. Ou comecei forte com letras grandes e acabei sem espaço para a últimas que ficaram encavalitadas umas nas outras. Não me lembro se terei escrito a lápis, ou a caneta, ou a marcador. Provavelmente foi escrito a cor-de-rosa, se houvesse à mão.

Não me lembro de ter ido morar para Nisa, mas não foi lá que a minha vida começou e no entanto, todas as primeiras memórias que tenho são lá. Não me lembro de nada antes disso. Vivi lá cerca de quatro anos, até aos cinco anos de idade e não me lembro de ter tido frio, nem de dias de chuva, só sol. Não me lembro de ter começado a ir para a escola, lembro de ir somente. Não me lembro da cor da nossa porta de casa, só me lembro que a cozinha devia ser azul.

 

02 fevereiro 2025

A sala da avó Júlia


Na casa da avó Júlia havia imensos objetos antigos nas prateleiras da estante da sala. A maioria deles eram de tons escuros e alguns mal conseguíamos, pelo contorno esbatido pela penumbra, perceber o que eram. A avó Júlia mantinha sempre as cortinas fechadas, dando à sala sombria uma atmosfera de secretismo. Talvez por isso me sentisse sempre tão atraído pelo seu conteúdo e a sala era para mim como uma caverna do tesouro à espera de ser explorada.
imagem obtida com recurso a IA

Naquela tarde de domingo a avó Júlia tinha saído com a minha irmã Clara para ir comprar ovos para fazer o bolo de chocolate, e a mamã estava na garagem com o avô Zé: era a oportunidade perfeita para ir explorar a sala dos tesouros.
Entrei silenciosamente e varri a sala com o olhar em busca de algo que saltasse à vista, mas não encontrei nada de destaque. Peguei então na moldura da fotografia da avó a andar de cavalo para ver mais perto e foi quando o vi: redondo e amarelo, quase que brilhante, um pequeno porquinho mealheiro.
- Oh, olá! Como é que nunca tinha dado por ti? – disse baixinho abandando do mealheiro. Conforme o fiz ouvi barulho metálico, «ah, tem moedas» pensei, e nesse instante caiu alguma moeda ao chão.
«Plin, plin, plin» parou um pouco mais à frente dos meus pés, só que… não era uma moeda: era uma pequena chave dourada. Peguei na chave, que não era maior que o meu dedo mindinho.


Este é um pequeno texto de abertura de um conto infantojuvenil. Mais um dos meus experimentos.