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08 março 2013

ECO

Quando chegas a casa e ligas a televisão... Ah, deixa-me cá ver o que está a dar, pode ser que esteja alguma coisa interessante, pensas... Mas não é isso que "pensas". Na verdade ligas a televisão pois não suportas o eco do silêncio nas paredes despidas e cruas da tua casa, não aguentas o teu reflexo em cada porta esquálida e nua, não queres saber de ti. Chegas a casa e ligas a música, alto, tão alto que parece que sabes cantar tão bem quanto os restantes instrumentos, batendo em ondas ritmadas contra as paredes o chão, o tecto, as janelas. Não queres saber dos vizinhos, não os ouves tão pouco também. Não te ouves a cantar (melhor, menos ainda ouves as outras vozes).

O que dói é quando dói a cabeça, quando não suportas mais som nenhum, quando tu falas muito mais alto que tudo em redor e não queres ouvir-te e falas ainda mais alto... aí dói, e dói a cabeça. Porquê? É "muito" som ao mesmo tempo. É muito. E dói muito pensar em ter de pensar no que tu falas para ti. Porque a mensagem é difícil; não de decifrar, mas de cumprir...

Nascemos sozinhos e morremos sozinhos. O que somos quando chegamos é igual ao que somos quando partimos, só estamos mais gastos, mais magoados, às vezes mais felizes às vezes não, mais vividos, esgotados do nosso propósito.

Mas partilhamos o que temos, pois se não partilharmos não estamos a fazer o que viemos cá fazer. Somos um ingrediente da mistura, temos de nos misturar... E no fim do dia, no fim da semana, no fim do mês, no fim dos tempos, somos só mais um ingrediente e um ingrediente só. Somos substituíveis como todos os outros, somos bons e somos maus como todos os outros, queremos mais como todos os outros, só temos uma oportunidade como todos os outros.

Não somos mais nada: somos como todos os outros, e estamos sozinhos como todos os outros

Enfim... afinal não somos nada de especial, somos apenas mais um

E este é só mais um dia, e como os outros, vai passar...


Bom fim-de-semana (antes do acordo ortográfico)

22 dezembro 2010

"isso está tudo previsto"

No tempo em que as máquinas se sobrepõem à razão, em que o sentido do nosso rumo é determinado somente por formas matemáticas, em que um dia não é mais um dia de vida mas a soma dos minutos que compõem as 24 horas, em que o que somos hoje é um resultado de variantes calculadas à milésima, em que a nossa estrada tem sempre delimitações para não sairmos para a berma, em que todas as perguntas já têm respostas lógicas e plausíveis previstas, em que tudo o que imaginamos existe já, ou não existirá nunca, porque assim está determinado, em que nada podemos fazer porque já está tudo previsto, o bom e o mau, eu pergunto: o que é que andamos cá a fazer então? Para quê os nosso olhos se não mais que confirmar o que existe podemos; para quê os nossos ouvidos se sabemos ser possível ou impossível tudo o que ouvimos; para quê as nossas pernas se haverá sempre a força necessária para fazer o caminho que já está traçado?

Porque jogamos só aos dados? Porque não inventamos?
Quem nos proibiu e vedou o acesso ao livre arbítrio?
Somos intervenientes: porque somos peões ou porque realmente jogamos?

Seremos livres realmente; ou será a liberdade mais uma bolinha atrelada por correntes à nossa mente?

Vamos andar sempre assim, envoltos na névoa da liberdade (que nada mais é além de nevoeiro) e sem ver as correntes que nos prendem à lógica da estabilidade…

E eu tenho pena

30 abril 2010

Dois segundos

Abandonei o mundo por dois segundos, foram só dois segundos, e esses segundos foram exactamente suficientes para te fazer mudar de ideia. A culpa não foi minha, eu nem estive cá quando tudo aconteceu, nesses dois segundos...

E foi tão fácil, foi só fechar os olhos e deixar de existir, de pensar, quase até de respirar. E conforme as pálpebras se cerram abrindo portas à invasão da escuridão e do silêncio seco, apaga-se a luz e a razão e a memória e a culpa e tudo o mais.

Dois segundos

Fui só eu que estive fora, por isso ao que se passou aqui, subtraio a minha culpa. Isento-me dessa preocupação! E hoje não vou pedir desculpa, não... não quando a única coisa que fiz foi fechar os olhos por dois segundos.

(ainda se tivesse sido só por um segundo...)

08 março 2010

coisas que não sei

Tenho pena, mas ultimamente a inspiração não abunda: nem para escrever nem para nada.

O que me tem preocupado, ou talvez afligido, bastante ultimamente são as coisas que não sei:

Não sei o nome de todas as pessoas que conheço

Não sei conduzir sem falar

Não sei jogar snooker, nem jogos de cartas, nem matraquilhos nem dardos, nem futebol, nem basquetebol, nem ténis, nem nada disso

Não sei bem o que é um neutrino e não sei imaginar a quarta dimensão

Não sei descascar um kiwi de faca e garfo

Não sei andar a cavalo nem de mota, nem de skate, nem de esqui

Não sei pintar, nem tocar piano, nem violino

Mas o pior disto tudo, não sei se tenho vontade de me interessar em aprender isto.

Tenho os braços caídos e não me julgo com força de os levantar... E não sei quando tudo isto começou :(