E finalmente o meu desejo é: Sejamos todos burros, aliterados... Mas quando digo burros, quero dizer mesmo isto: completamente ignorantes, sem saber ler nem escrever, e sobretudo poder com isto justificar o facto de não se aperceber do que se passa à sua volta.
Metem nojo, todos aqueles que supostamente sabem ler e escrever, os ditos cultos, os ditos licenciados, os senhores doutores, mas que se abstêm de tentar perceber o que se passa. E o que se passa é uma grande merda, e se nem os senhores doutores mexem um palha para modificar o que quer que seja, então que sejam todos ignorantes, que se dispam de rótulos e títulos que nada são além disso mesmo.
Onde é que está a capacidade humana destes senhores? A capacidade de lutar pelos seus direitos? Todos nós só temos direitos porque lutámos por eles um dia, não foi porque ficámos parados à espera que a maré de "azar" passasse. Não foi por nos acomodarmos ao que há, como bichos, e fecharmos a nossa mente aos almejos de uma vida melhor, mais justa.
Metem nojo, todos aqueles que se curvam por dentro, que se prostram diante dos desafios, que engolem em seco sempre porque acham que um dia vão ser libertados da escravidão, e essa vida de escravidão vai pesar na balança. Todos eles que se humilham na escravidão como se não houvesse outro caminho, e preferem esta humilhação à humilhação pública de remar contra a maré, são asquerosos.
Repugna-me que hoje seja mais vexatório a luta de peito aberto, do que a acomodação nos pútridos Lugares que nos restam na base da sociedade, porque é mesmo assim e porque há que ter paciência. Mais vale morrer por algo que valha do que viver para sempre no nada? Não, mais vale não crescer, não chegar a perceber o imbróglio em que nos encontramos imersos.
E por isso o meu desejo hoje é: que sejamos todos ingnorantes, incultos, brutos.
Fevereiro 2009
(Isto escrevi eu, num momento de revolta contra o sistema que obriga as pessoas a trabalhar de borla até aparecerem mais pessoas que queiram também trabalhar de borla[recém-licenciados], pois essa é a única hipótese de se começar. E é impressionante como está tudo ligeiramente na mesma, exceptuando o facto de a "escravidão" estar mais disfarçada hoje, e de a vontade de lutar tender cada vez mais para a inexistência...)
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